sábado, 21 de maio de 2011

Tragédia em V atos.







I


Primeiro Encontro.


Tudo começa quando se menos espera. ele não pode evitar, um abraço um olhar e logo ela já não estava lá. Mais permaneceria em seus pensamentos e logo depois em seu coração.

II

Não Foi Por Acaso.


Dês do inicio aquele foi um encontro arranjado. O verdadeiro inicio de uma Tragédia em V atos. O abraço, seu cheiro e logo o primeiro beijo. A traição eminente sem que ninguém se lembre.

III

Um Amor Descartado.

Não foi apenas pelos beijos e abraços que ele estivera lá, ele queria seu grande amor demonstrar. Impiedosa e paciente ela abriu seus olhos desse amor impotente. Foi apenas mais um descarte, impiedosa e paciente.

IV

Duvidando do Amor.

Ah ela, ele tentou demonstrar. Seu amor ela quis arrancar. Em duvida seus sentimentos foram jogados. E o amor dela para outro dado. Ele quisera vela feliz. E no entanto pelo outro ela fora enganada. Os olhos dela ele abriu para a outra pessoa, maldita e dissimulada! Desta vez ela acreditou. Mais em muito pouco para ele ela voltou.

V

O Fim do Romance Sem Cor.

Em poucos dias dele ela quis esquecer. E o romance foi apagado antes mesmo de verdadeiramente acontecer. Foi o outro que ela quis amar. E o outro a ela amor verdadeiro nunca vai dar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pensamentos da senhorita M.




Ah, se você pudesse sentir como é difícil pra mim não poder transparecer.
Deixar tudo isso acontecer e o melhor de mim ter que perder para poder não perder você.
Não pense que foi fácil pra mim, quase te perder assim, sem que você se importasse por mim.
Agora eu me deparo cansada de tudo isso, com esse sentimento invertido que mais parece um vicio.
Nesse rascunho de um amor invertido, que mais parece estar perdido como tudo o que eu sinto.
Espero que tu não tentes mais queimar tudo que me tras paz pois meus olhos vão tranparecer e tudo vai se perder como o amor do inicio dessa historia.

sábado, 7 de maio de 2011

Tique - Taque.


O homem deitado na cama não conseguia dormir. Enquanto olhava para o teto ecuro, tentava dar o primeiro passo. Os últimos acontecimentos certamente bagunçaram totalmente sua mente e ele ainda tentava digerir os fatos, tudo em seco.

Malditos fatos.

Ao seu lado, sua esposa e causadora de sua insônia dormia tranquilamente. Aquilo o deixava, de certa forma, inquieto. Ele não conseguia compreender como ela poderia estar tão serena, quando, em seu mundo interior que presenciava uma guerra, tudo estava prestes a explodir.

Mas isso não importava. Afinal, ela logo estaria morta.

A respiração da mulher era o único som que se podia ouvir e, apesar de se tratar de um som tão calmo, aquilo fazia a cabeça do homem doer. Mas os iminentes som de agonia o tranquilizavam e ele podia, assim, manter o controle sobre suas mãos.

Para quê tanta pressa?, ele pensava. De fato, não havia necessidade de pressa. Ela estava ali, dormindo, esperando por ele. Esperando pelo que pedira, mesmo sem perceber. Esperando pelo seu próprio fim.

Apesar de querer pausar a respiração de sua esposa, ele também queria ouví-la por mais tempo. Ele precisava ouví-la. Mesmo que ele odiasse a si mesmo por isso e da pior forma possível, aquela era a mulher que amava. Mais cedo, nessa mesma noite, haviam se amado - pela última vez, ele acreditava - e ele ainda podia sentir o gosto dos lábios dela nos seus. Nunca desconhecera aquele sabor. Ele também tentava aproveitar isso ao máximo, pois como bem sabia, jamais poderia fazê-lo novamente.

Em meio a essa mescla de ódio e paixão, exteriormente, o homem se mostrava impassível. Como nunca visto antes, seu rosto exalava frieza. E ele se sentia bem com isso. Se sentia bem por finalmente enxergar com clareza o que, outrora, estava envolto por sombras.

A princípio, quando tivera início a desconfiança, ele tentara não pensar no assunto. Queria, mais que qualquer outra coisa, que tudo fosse mentira. Mas o fato é que é difícil ignorar tantos cortes, quando eles estão sempre voltando a doer e sangrar.

E agora o homem sabia que precisava estancar esse sangramento, mesmo que para isso tivesse que abrir outro cortes. Porém, o sangue que correria dessa vez não seria metafórico.

O primeiro corte viera com a desconfiança. O segundo viera com a certeza, quando ele pôde ver com os próprios olhos que sua esposa não era bem quem aparentava ser e muito menos sentia o que dizia sentir. Na verdade, agora ele duvidava muito que ela ao menos pudesse sentir alguma coisa. Ele sabia que, para ela, não importava muito com quem estava deitada, desde que a tal pessoal pudesse satisfazê-la.

Ele não tinha plena certeza se ela possuía mais de um amante, mas a partir do momento que se descobre a existência de um, fica mais fácil acreditar que existam outros. E, de certa forma, é nisso que se quer acreditar, pois a mente nunca se satifaz com poucas tragédias. Ela sempre quer e precisa de mais, até que se extingua toda a sanidade.

E era isso o que ocorria naquela noite. A sanidade do homem ia cada vez mais perdendo espaço em sua mente à medida que ele se enchia de pensamentos.

Malditos pensamentos.

Mas o limite logo seria alcançado e ele saberia quando isso acontecesse, pois seria esse o momento no qual sua decisão não poderia mais ser adiada.

O relógio fora substituído pela respiração da mulher e logo seria ouvida a última badalada.

O homem sentiu algo quente passar pelo seu estômago, fazendo com que ele finalmente saísse do frio total daquela noite.

Maldita noite.

Tique-taque.

Ele deslizou a língua sobre seus lábios uma última vez.

Tique-taque.

Agora faltava pouco tempo e já não conseguindo mais ouvir os segundos passarem ao seu lado, o homem ergueu-se da cama. Ao encostar os pés descalços no chão, teve uma breve sensação de preenchimento.

Mais frio. Era o que sua mente pedia. Era o que sua mente precisava. Era o necessário para que sua mente controlasse o corpo, pois não poderiam haver fraquejos. Não nesta noite.

Sentiu sede de álcool e não hesitou antes de se deslocar, cuidadosamente no semi-breu, até a sala de estar. Tateou por um momento à procura do interrutor e logo o encontrou.

Fez-se luz.

O brilho que vinha da parede esquerda da sala tinha o bar como origem. De um modo estranho, que só o homem conseguia enxergar - pois era o que sua mente queria ver - as garrafas de vodca e uísque, bem organizadas umas aos lados da outras e encimadas por outras tantas, estavam com uma coloração mais intensa, como se pedissem para serem vistas e tocadas. Indo do branco ao rubro, era como se elas abrissem sorrisos sedutores, perversos e inevitavelmente hipnotizantes.

O homem não precisou pedir que sua pernas se movessem; elas sabiam o caminho por si só e o guiaram até o caleidoscópio de álcool.

Após contornar o balcão marfim, deslizou a mão sobre os vários tons de cores, tentando encontrar o mais belo e apaixonante: aquele tom de cor que ele sabia que jamais seria capaz de abandoná-lo; jamais seria capaz de fazê-lo se sentir mal; jamais seria capaz de traí-lo.

Não demorou, pois seus olhos logo se fixaram em um vermelho-sangue incrivelmente fascinante. Agarrou a garrafa de vidro delicadamente e, do mesmo modo, pousou-a sobre o balcão. Não queria machucá-la de forma alguma, pois aquela seria sua amante durante toda aquela noite. E durante quantas noites mais fosse necessário.

Pegou um corpo gordo dentre os montes que ali estavam e não tardou a enchê-lo totalmente com sua amante rubra. Levou-o até os lábios e bebericou o líquido, apenas para tirar o gosto que outrora o viciara, mas que agora queria deixar para trás, no lugar mais escuro e distante possível. E ele sabia bem que lugar era esse.

Agora sentia apenas o gosto do vermelho e isso ele apreciou.

Ali perto estava uma poltrona disposta ao lado do espaçoso sofá. O homem se dirigiu até lá, ainda com o copo na mão, e, então, se aconchegou.

Enquanto estava ali sentado, tentou fugir um pouco da situação em que se encontrava. Não por medo ou hesitação de realizar o que deveria ser feito, mas apenas para aproveitar melhor sua nova amante e esquecer a esposa ao menos por um segundo.

Certamente não conseguiu fugir da situação, mas talvez tenha fugido de si mesmo. Não se sentia como ele próprio: se sentia como seu pai. Seu velho pai... Que antes parecia tão estúpido e incapaz de dar amor ao próprio filho e à mulher, mas que agora parecia o homem mais sábio do mundo...

Era um noite fria e um pouco chuvosa quando aconteceu.

Sua mãe estava em casa, enquanto o pai trabalhava até um pouco mais tarde. Sempre se dedicou ao trabalho, seu pai, e tudo pela família. Se dedicou mais do que devia, até, pois afinal, não valera tanto a pena. E naquela noite, ele supostamente não chegaria em casa tão cedo e já havia avisado à esposa.

Bom, a esposa resolveu correr riscos. Uma visita inesperada de um velho amigo da mulher deixou a criança de apenas 8 anos um pouco apreensiva, mas era só uma criança, não havia muitas conclusões a serem feitas. Contudo, viu a mãe tomar algumas taças de vinho com o tal amigo a ponto de ficar um pouco alterada e sabia, de alguma forma, que algo não estava certo.

Depois de colocá-lo na cama, a mãe do garoto voltou ao amigo e depois disso...

Sono.

Então, gritos.

Depois de acordar assustado, o garoto saiu do quarto lentamente, ainda um pouco sonolento. Escutava xingamentos e gritos incoformados. Conhecia bem a voz de seu pai, mas nunca a ouvira daquela forma. Porém, o que tornava aquilo ainda mais incompreensível era o fato de os gritos estarem sendo dirigidos à sua mãe. Nunca imaginara o pai levantando o tom da voz para qualquer membro de sua família, mas o inimagível, afinal, acontecera.

O garoto chegou à sala e viu algo que não conseguiu entender de início: sua mãe enrolada em um lençol branco, as lágrimas correndo sobre o rosto; seu pai berrando coisas horríveis, também acompanhadas de lágrimas; o velho amigo de sua mãe jogado ao chão, desacordado ao canto da parede com pedaços de vasos de cerâmica ao seu redor, e nu.

Aquilo o pertubou. Mesmo sem saber, até tempos depois, o que se passava, sabia que tudo mudaria. Aquela não era mais sua casa, e muito menos, aquela era sua família. Estava acabado.

Ficou ali parado à porta, observando tudo, sem ser notado. Sentiu as lágrimas vindo e as deixou rolar por seu rosto. Juntamente com as lágrimas, vinham as lembraças que, ele sabia, não poderiam ser repetidas: os abraços do pai, a felicidade da mãe, os momentos passados juntos. Era sua alma que ia embora, levando consigo três vidas. Três vidas que, até então, pareciam imortais. O garoto aprenderia mais tarde que o imortal nem sempre traz o resultado que mais se deseja...

Houve um momento de pausa na discussão entre os pais. O homem fitava sua esposa com um olhar de incompreensão. Aquele olhar parecia perguntar o porquê de se reunir tanta felicidade e depois jogá-la em um abismo sem fim, sem nenhuma cautela, sem chances de volta.

Então, a imcompreensão se tornou ódio. Tomado por lágrimas e respiração ofegante, o pai levantou o braço e fez o que deixou o garoto com uma insaciável vontade de correr e sumir. Uma insaciável vontade de perder de vista tudo o que se passava e só reaparecer quando o mundo voltasse a ser o que costumava ser.

O soco fora desferido direto contra o rosto da mãe, que caiu ao chão, incrédula. Ali, jogada, notou a presença do filho e mostrou um olhar de arrependimento. Mas aquele olhar também dizia que tudo estava bem. O garoto sabia que era mentira. Nada estava bem.

Não foi o fim. O pai ainda precisava despejar sua raiva. E o alvo estava ali, próximo a ele. Depois de agarrar firmemente a esposa pelo longo cabelo, com mais incompreensão estampada em seu rosto, não hesitou em atingi-la outra vez no rosto. Novamente, a vontade de correr surgiu no garoto.

Mas, não... Ainda não era o suficiente.

Outro golpe desferido, e outro, e outro...

Mais lágrimas correndo e carregando a alma...

Mais olhares de arrependimento e incompreensão...

Pronto. O mundo explodira. Não havia mais nada além de um braço cansado, porém nunca hesitante, e um corpo semi-consciente, tomado por rios de sangue e manchas roxas por todo o rosto.

Os únicos olhares presentes eram um sem vida e sem emoção e outro coberto por satisfação. Este último assustava o garoto mais do que qualquer outra coisa. Temia que, a qualquer momento, tal olhar pudesse encontrá-lo e achar que ainda havia algo mais a ser feito. A partir daquele momento, ele veria esse olhar durante todos os dias de sua vida, sempre que se encontrasse sozinho, lembrando a vida que uma dia fora sua.

Mas quando o olhar o encontrou, ele não pensou antes de correr em direção à saída da casa, fugindo dos braços do pai e buscando qualquer outro lugar onde pudesse se esconder.

Não correu muito pela rua até encontrar alguns vizinhos, assustados com o barulho que se fizera ouvir nos últimos minutos. Depois de algumas perguntas indistintas, vindas não soube dizer de quem, o garoto conseguiu falar.

Logo o pai estava algemado em um carro, sendo levado à cadeia. A mãe, deitada em uma maca, quase sem vida, sendo levada ao hospital, e ao seu lado... o velho amigo.

Quanto ao garoto... Ficou ali, protegido por braços desconhecidos de algum oficial de justiça sem importância, com o mundo transformado em cinzas ao seus pés. Se fechasse os olhos, podia vê-lo se refazendo... Primeiro virando fumaça, depois se tornando sólido. E este mundo não era frio, nem escuro. Neste mundo havia os braços de seu pai, que não queriam estrangulá-lo. E também os sorrisos de sua mãe, contente por ter encontrado uma boa vida.

Mas, então, aquele olhar amendrontador voltava a atormentá-lo e o mundo entrava em combustão, logo voltando a ser cinzas.

Quando a mãe enfim se recuperou e pôde voltar para casa, o garoto recobrou um pouco da felicidade por voltar aos seus braços, mas não era a mesma coisa. O mundo insistia em ser apenas restos negros sem vida.

Ele nunca mais voltou a ver um sorriso sendo ao menos esboçado pela mãe e, sendo assim, não havia porque ele próprio sorrir.

O fim chegara e se alojara em suas costas.

Maldito fim.

O homem, ainda sentado em sua poltrona, voltara a pensar em sua esposa. Ela sabia pelo que ele havia passado enquanto criança e era isso que o deixava irritado. Agora, mais do que nunca, ele entendia o pai e o respeitava, sabendo que teria que remediar a situação.

No momento em que vira sua esposa dividir seu lábios com outro homem, não tivera chance de fazer algo. Não estavam em casa e uma morte em meio à uma festa não seria algo muito sensato. Se supreendera por ter conseguido manter a mente funcionando do jeito certo.

Ali sentado, notou que os segundos agora passavam mais rapidamente e estavam cada vez mais audíveis, a ponto de causar dores em seus tímpanos. Aquele barulho precisava ser silenciado.

Sem pressa, aproveite o que lhe resta, ele pensou.

Tique-taque. Tique-taque.

O homem sentiu uma dor pulsante na cabeça e olhou para o copo que segurava. Assim como mandava sua mente, ele levou-o à boca e bebeu todo o conteúdo avermelhado, sem parar para respirar.

Um calor repentino desceu por sua garganta e contrastou com o frio que até então era dominante. Junto com o calor, uma sensação de enconrajamento surgiu também. O homem já não queria mais esperar.

Pousando o copo no braço largo da poltrona, ergueu-se e passou a caminhar. A cada passo que dava, o calor se esvaía um pouco mais, porém a coragem só aumentava.

Logo, chegou à cozinha e ligou o interruptor. Pela segunda vez, fez-se luz naquela madrugada, mas dessa vez não havia nada a brilhar estranhamente... Ou o brilho estava apenas escondido. Se era esse o caso, tal brilho precisava ser encontrado, para que a noite se completasse da forma correta. Da forma ordenada pela mente. Da forma que tiraria a vida de alguém.

Ao centro da cozinha estava um balcão e foi esta a direção que o homem tomou.

Sobre o balcão estava um porta-facas escuro e a mão do homem logo pousou sobre o cabo da maior faca ali presente. Puxou-a.

Foi aí que o brilho se revelou.

A lâmina prateada da faca clamava para ser admirada, pois brilhava intensamente, contrastando com o cabo. Porém, mais do que ser admirida, ela queria ser usada. E o homem sabia disso porque podia ouvir sua voz, sedenta por sangue.

Deslizou os dedos sobre o brilho hipnotizante e sentiu, pela segunda vez, preenchimento. E para encorajá-lo ainda mais, aquela voz não era o único som a ser ouvido.

Tique-taque. Tique-taque.

Os segundos eram mais intensos e o homem agora não podia mais evitar a pressa. O limite fora alcançado e os pensamentos precisavam ser transformados em ações. E a primeira ação foi realizada: segurando a faca firmemente para baixo, ele começou a traçar o caminho de volta ao quarto... O caminho de volta ao alvo.

MALDITO ALVO!

Tique-taque. Tique-taque.

Chegou ao portal do quarto e o cruzou, agora podendo ouvir ainda mais intensamente o relógio. Não mais por muito tempo. Ele se encaminhou à cama onde estava sua esposa, ainda serena...

Ainda linda. Ainda apaixonante.

Não. Obedeça à mente.

Um pontada dolorosa de ódio antigiu seu peito. Mas não adianta, o ódio sempre divide espaço com o amor, e não foi diferente quando o homem deixou cair seu olhar sobre a beleza fascinante que se escondia no escuro.

Os cabelos sedosos e loiros caíam sobre o rosto liso e branco, perfeitamente esculpido pelo melhor artista que poderia um dia ter existido. Apesar de não poder ver tão bem as feições da esposa, o homem sabia que aquela beleza estava ali, adormecida, esperando para ser admirada. O cartão de visita da mais perfeita mulher. Mas, infortunamente, também era o cartão de visita da traição.

Tique-taque. Tique-taque.

As badaladas estavam tão próximas que o homem podia sentí-las. Então, ele se deu conta de que ele próprio segurava, em sua mão direita, o badalo. Seu coração bateu mais forte e, como se tivesse ouvido aquele angustiante e ansioso som, a mulher abriu lentamente os olhos.

O homem manteu a postura e olhou diretamente para ela, o frio ainda exalando de seu corpo. A princípio, a mulher não entendeu o que se passava, pois o sono ainda estava pousado em suas pálpebras, mas logo seu olhar caiu sobre a faca que o marido segurava. Este, porém, não deu a ela tempo de realizar qualquer movimento ou fala.

Eu te amei, ele pensou e, então, ergueu a faca acima da própria cabeça com as duas mãos.

Tique-taque.

Ouviu-se um grito pavoroso, mas que logo foi silenciado, pois a primeira badalada fora dada: a faca caíra sobre o peito da milher, atingindo diretamente o coração. Um engasgo rouco também foi ouvido, quando o homem puxou a arma de volta para o alto, dando espaço para o sangue escorrer sobre o corpo deitado.

Esse vermelho também brilhava, juntamente com o que encobria a faca. Brilhava de uma forma que fascinava e acalmava a alma; de uma forma que fazia a madrugada parecer mais bela; de uma forma que estonteava a mente do homem. E por isso, esta ordenou que houvesse mais.

A expressão da mulher era de pavor ao tocar o peito machucado e olhar para o rosto frio do marido.

Aqueles olhos intensos a fitavam com intenções amendrontadoras e ela sabia que precisava escapar, mas o ferimento em seu corpo dificultava qualquer movimento e ela podia apenas suspirar e gemer de dor. E, claro, também podia rezar. Mas de nada adiantou.

O homem chegara a pensar que sentiria ao menos uma ponta de arrependimento, mas estava enganado. Ao ver a mulher arquejar e sibilar algo ininteligível, não sentia nada além de ódio. Talvez, como antes, pudesse achar um grande desperdício matar tanta beleza, mas isso era tudo. Além disso, só existia a sede por sangue.

Ele estava pronto para a segunda badalada.

Desceu a faca novamente em direção ao peito da mulher, e dessa vez, além de escorrer, o sangue também espirrou para vários lados, indo parar, inclusive, no rosto frio e mal intencionado que ali estava. Mais coragem. Mais sede.

Mais uma badalada, e outra, e outra...

Mais vermelho brilhante escorrendo e espirrando...

Mais suspiros e gemidos...

E então, quando quase tudo era vermelho e a mulher, coberta com o próprio sangue, tinha o olhar já moribundo, veio a última badalada. Diferentemente das outras, essa veio acompanhada por um berro pavoroso de ódio.

A faca desceu e o relógio, enfim cessou sua vida. Tudo agora era silêncio. O homem, coberto de vermelho, prendia a respiração e assim ficou por um breve momento. Seu coração batia forte, mas ele não podia ouví-lo, pois era como se alguém tivesse abaixado todo o volume do mundo.

Olhares e constatações.

O som voltou, então, quando o homem soltou a respiração. Fez-se ouvir o coração; fez-se ouvir a exaustidão; fez-se ouvir o riso do badalo. Porém, não se podia mais ouvir o relógio, pois a respiração da mulher se fora.

O homem olhou ao seu redor, analisando os fatos. Mais um momento de pausa e constatações.

Enfim, surgiu um sorriso de satisafação que exprimia a reconfortante ideia de trabalho concluído. Após um profundo suspiro, se deu conta de que precisava de uma recompensa. E ele sabia o que queria ganhar.

Olhou para a faca suja por mais um instante e desta para o corpo sem vida deitado à sua frente. Não sentiu mais nada, absolutamente nada. Finalmente jogou a faca, outrora prateada, sobre a cama, e ela quase se perdeu na vastidão de vermelho.

Deu a volta, como se o que estivesse ao seu redor não fosse mais importante, mas apenas uma tragédia inevitável, e se encaminhou de volta à sala de estar. E lá estava o brilho das garrafas de vidro. Tornou a pegar a amante de cor mais intensa que deixara sobre o balcão e, além desta, outras duas também divinamente belas e foi em direção à poltrona.

Sentou-se e não quis saber do copo que ainda estava ali, mas que logo foi parar ao chão, despedaçado, com o empurrão do homem.

Ali aconchegado, o homem tomou um longo trago direto da garrafa vermelha que segurava e sentiu-se tão calmo quanto poderia sentir.

Por três dias foi assim. Ali ele ficou, em meio ao odor cadavérico, sem ouvir um único tique-taque, até que não se pode mais ouvir as batidas do seu satisfeito coração.